segunda-feira, outubro 31, 2011

William Carlos Williams

A DURAÇÃO

Uma folha amarfanhada
de papel pardo mais
ou menos do tamanho

e volume aparente
de um homem ia
devagar rua abaixo

arrastada aos trancos
e barrancos pelo
vento quando

veio um carro e Ihe
passou por cima
deixando-a aplastada

no chão. Mas diferente
de um homem ela se ergueu
de novo e lá se foi

com o vento aos trancos
e barrancos para ser
o mesmo que era antes.

(tradução: José Paulo Paes)

"A verdade é que as notícias de jornal oferecem o justo incentivo para a poesia épica, a poesia dos acontecimentos. [...] O poema épico teria de ser o nosso 'jornal'. Os Cantos de Ezra Pound são um equivalente algébrico disso, mas um equivalente tão perversamente individual que não alcança ser compreendido universalmente como seria mister. [...] Terá de ser um estilo épico conciso, de pontaria certeira. Estilo de metralhadora ".

Poeta fundamental numa tradição de gigantes, a poesia norte-americana, em que cada autor parece estar observando o mundo pela primeira vez e inventando a linguagem poética (...). Dentro desta tradição, William Carlos Williams se destaca por sua capacidade de transformar todo assunto ou objeto em matéria poética. Daí sua atenção toda peculiar ao fugaz e ao diminuto, ao aparentemente desimportante, enfim.

A poesia surge do mais inesperado solo... "Ele continua a arrebentar rochas e rachar poemas". (T.S. Eliot numa carta de fevereiro de 1959, aludindo a um de seu poemas mais conhecidos, "Uma espécie de canção".

(comentário de José Paulo Paes publicado
no livro "Poemas". Companhia das Letras, 1987)

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