terça-feira, janeiro 19, 2010

essa foto é da Bel na sala onde fizeram a tala e depois o gesso
na noite em que passamos pelo Miguel Couto
ja escrevi um pouquinho mas ainda estava meio triste pensando na morte da bezerra como fico sempre
e a menina que quando acordei na enfermaria lotada, além do cara recem operado todo ensanguentado do meu lado e que estava nu, estava lá também sentada numa cadeira de rodas
com um ar triste ausente ela não estava lá ou sofria muito
muito, longe
estava antes na tomografia, e tinha vomitado
depois a vi, em alguma parte, perdida ou esperando
e de manhã ela vomitou de novo, sentada na enfermaria, com mais quinze outras pessoas que também esperavam
a mulher que chorou de manhã e que me deu um copo de água
a mulher que falava de Jesus
a menina que casou com o indio aos treze anos e que se comunicava telepaticamente com ele sua alma gêmea e que escreveu um livro de poesias aos quatorze e tinha um rosto doce e louco e me perguntou se eu não lembrava dela e que adorou o livro do Coetzee que estava comigo e que disse que eu era bonita e lembrava sua mãe
a mulher que estava numa maca sem colchão e que qdo recebi alta pulou para a minha
o unico banheiro para trinta pessoas
a enfermeira mal humorada que me deu um copo de café com leite e muito açucar e eu devolvi gentilmente, e ela reclamou que eu deveria ter avisado a nutricionista que ainda não havia aparecido
a nutricionista que apareceu e não me perguntou nada
o médico lindo que parecia o Rodrigo Santoro e me deu alta repentinamente e estava de camisa pólo e perguntei à ele se ele já estava indo e ele ficou surpreso
o cara bonitão que fraturou o nariz e que foi assaltado e empurrou minha cadeira até o raio x
os maqueiros que sumiam
muitos e muitos médicos que apareceram de manhã, numa espécie de procissão

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