terça-feira, setembro 29, 2009

Bachelard, a intuição do instante

...é este tempo vertical que o poeta descobre quando recusa o tempo horizontal, isto é, o devir dos outros, o devir da vida, o devir do mundo. Eis, pois, as três ordens de experiências sucessivas que devem desatar o ser amarrado no tempo horizontal:

1. habituar-se a não referir seu tempo próprio ao tempo dos outros: quebrar os quadros sociais da duração;

2. habituar-se a não referir seu tempo próprio ao tempo das coisas: quebrar os quadros fenomenais da duração;

3. habituar-se - duro exercício - a não referir seu tempo próprio ao tempo da vida (não saber mais se o coração bate, se a alegria impulsiona): quebrar os quadros vitais da duração.

Somente então atingimos a referência auto-sincrônica, um centro de nós mesmos sem vida periférica. De repente, toda a horizontalidade plana se esvai. O tempo não corre mais. Ele brota.


(L´intuition de l´instant, 1973, p.103-106)

Um comentário:

ipaco disse...

Belíssima sacada.