domingo, fevereiro 14, 2010
sábado, fevereiro 13, 2010
e vovó tomava banho de camisola no colégio interno de freiras, mamãe sempre contava isso, não podia ver nem tocar o corpo
e então mamãe queria que tudo fosse o mais solto possível, era uma reação, e falava que sexo era uma coisa tão simples como escovar os dentes! era um processo dela de desrepressão, de libertação, e fomos ver o Boal quando ele voltou do exílio e passamos uma semana lá em casa falando vc está me oprimindo
quando contei isso no biográfico a Rose ficou meio chocada, acho que para ela estava tudo dessacralizado demais
e na mesma época alguém me ofereceu um trabalho que era tocar piano numa aula de ballet, fui lá ver e lembro do chão de tábuas corridas em um sobrado velho no centro? e não tive coragem de assumir, achei que era mais adiantado do que eu sabia, e quem foi, não lembro
saiu um artigo sobre autobiografia no jornal
tenho que pegar meus cds para escutar, já que meu laptop morreu
hoje acho que gostaria de tocar piano numa aula de ballet, embora eu nem saiba mais, hahaha
e então mamãe queria que tudo fosse o mais solto possível, era uma reação, e falava que sexo era uma coisa tão simples como escovar os dentes! era um processo dela de desrepressão, de libertação, e fomos ver o Boal quando ele voltou do exílio e passamos uma semana lá em casa falando vc está me oprimindo
quando contei isso no biográfico a Rose ficou meio chocada, acho que para ela estava tudo dessacralizado demais
e na mesma época alguém me ofereceu um trabalho que era tocar piano numa aula de ballet, fui lá ver e lembro do chão de tábuas corridas em um sobrado velho no centro? e não tive coragem de assumir, achei que era mais adiantado do que eu sabia, e quem foi, não lembro
saiu um artigo sobre autobiografia no jornal
tenho que pegar meus cds para escutar, já que meu laptop morreu
hoje acho que gostaria de tocar piano numa aula de ballet, embora eu nem saiba mais, hahaha
Franklin diz que sabe de mim pelo blog, e eu que ando tão sem notícias então vou tentar criar notas
estou com dois óculos na cabeça, além das muletas encostadinhas aqui do lado, hahaha
contei pílulas de estórias da minha vida
meu avô era comunista do partidão e andou o Brasil inteiro à pé e que depois , na Itália, já expulso do partido, foi adotado por padres católicos e virou um religioso fervoroso, andando tudo de novo, ele que só tinha um pulmão, pois o outro ele tinha "perdido" na prisão, não sei se torturas ou as péssimas condições, pneumonia
minha avó era funcionária pública de algum ministério, foi inspetora, tinha pernas bonitas, gostava muito de ler e de ir ao teatro, cheguei à comprar livros para ela na dazibao que ela lia sem danificar as páginas e depois pedia para trocar!, hahaha, Rui não gostava muito, e ela era o "banco'da família, emprestava para todo mundo mas não dava e era seca, afetivamente seca, e lembro de ler kim, Philby, estória de um espião duplo inglês na união soviética que era dela, encadernado com papel colorido, acho que era mania encadernar os livros, e também Maigret ela adorava, mas quem herdou essa paixão foi o Pedro, eu nunca li Simenon
escuto uma música do radiohead, faz parte das várias que eu tinha no meu ipod e no mac, engraçado
estou com dois óculos na cabeça, além das muletas encostadinhas aqui do lado, hahaha
contei pílulas de estórias da minha vida
meu avô era comunista do partidão e andou o Brasil inteiro à pé e que depois , na Itália, já expulso do partido, foi adotado por padres católicos e virou um religioso fervoroso, andando tudo de novo, ele que só tinha um pulmão, pois o outro ele tinha "perdido" na prisão, não sei se torturas ou as péssimas condições, pneumonia
minha avó era funcionária pública de algum ministério, foi inspetora, tinha pernas bonitas, gostava muito de ler e de ir ao teatro, cheguei à comprar livros para ela na dazibao que ela lia sem danificar as páginas e depois pedia para trocar!, hahaha, Rui não gostava muito, e ela era o "banco'da família, emprestava para todo mundo mas não dava e era seca, afetivamente seca, e lembro de ler kim, Philby, estória de um espião duplo inglês na união soviética que era dela, encadernado com papel colorido, acho que era mania encadernar os livros, e também Maigret ela adorava, mas quem herdou essa paixão foi o Pedro, eu nunca li Simenon
escuto uma música do radiohead, faz parte das várias que eu tinha no meu ipod e no mac, engraçado
quarta-feira, fevereiro 10, 2010
estou lendo lentamente O Compromisso.
hoje pintei meu cabelo no salão em cima da travessa, de loiro ( ou louro?) Ficou engraçado. Acho que gostei.
e fiz uma massagem maravilhosa no andar de cima com um massagista cego! e que percebeu várias coisas sobre mim só com o toque. ele se chama Eusébio. depois quebrei um cristal de ametista, sem querer. foi estranho. energias.
e ele falou que vivo mais o passado e o futuro, que me auto boicoto, que sou introspectiva, que tenho dificuldades em receber. que me cobro muito. ufa. vícios.
ao mesmo tempo os aromas de capim-limão e alecrim, os óleos, a mão maravilhosa e experiente, ficar ali relaxando fora do tempo...
e estar aqui vivendo como se não houvesse amanhã, resolvi parar de me cobrar e aceitar que é isso e está sendo ótimo
e talvez eu estivesse precisando disso mesmo, de ser ajudada, de certa forma, de estar fora daquele apto que me deprime, de pensar calmamente ou não pensar, deixar um pouco as coisas irem sem me deprimir`a toa
hoje pintei meu cabelo no salão em cima da travessa, de loiro ( ou louro?) Ficou engraçado. Acho que gostei.
e fiz uma massagem maravilhosa no andar de cima com um massagista cego! e que percebeu várias coisas sobre mim só com o toque. ele se chama Eusébio. depois quebrei um cristal de ametista, sem querer. foi estranho. energias.
e ele falou que vivo mais o passado e o futuro, que me auto boicoto, que sou introspectiva, que tenho dificuldades em receber. que me cobro muito. ufa. vícios.
ao mesmo tempo os aromas de capim-limão e alecrim, os óleos, a mão maravilhosa e experiente, ficar ali relaxando fora do tempo...
e estar aqui vivendo como se não houvesse amanhã, resolvi parar de me cobrar e aceitar que é isso e está sendo ótimo
e talvez eu estivesse precisando disso mesmo, de ser ajudada, de certa forma, de estar fora daquele apto que me deprime, de pensar calmamente ou não pensar, deixar um pouco as coisas irem sem me deprimir`a toa
terça-feira, fevereiro 09, 2010
sábado, fevereiro 06, 2010
sexta-feira, fevereiro 05, 2010
sai de casa a luz la fora me encantou em vez de taxi resolvi andar ou talvez a palavra melhor seja pular de muletas o espaço aberto grande as pessoas pessoas frutas sinais bares vitrines onde me vi pedrinhas nesse pedaço a calçada levanta buracos 4 quadras! mais 2 pistas da praia andei até um quiosque eu que nunca gostei de ficar no calçadão estava amando sentada numa cadeira amarela de frente para o sol sol na minha cara de frente por favor não tem coco so no outro!, o mar azul la embaixo com linhas linhas linhas que não param de se mexer coco maravilhoso que acabou antes da hora
corpos bonitos corpos estranhos gatinhas garotões ouvindo as conversas as linguas saias biquinis azuis amarelos listras shortinhos muitos shortinhos e vestidinhos poses bicicletas cabelos turistas solsolsol suei muito mas estava otimo fotografei com o celular de um garoto tomara que ele me mande da proxima vez levar a maquina voltei lentamente sentando nas cadeiras que normalmente não percebemos que ficam nas calçadas - cadeiras dos porteiros dos vendedores de frutas dos bicheiros comprei uma manga e pendurei na muleta parece que andei quilometros preciso fazer isso mais
corpos bonitos corpos estranhos gatinhas garotões ouvindo as conversas as linguas saias biquinis azuis amarelos listras shortinhos muitos shortinhos e vestidinhos poses bicicletas cabelos turistas solsolsol suei muito mas estava otimo fotografei com o celular de um garoto tomara que ele me mande da proxima vez levar a maquina voltei lentamente sentando nas cadeiras que normalmente não percebemos que ficam nas calçadas - cadeiras dos porteiros dos vendedores de frutas dos bicheiros comprei uma manga e pendurei na muleta parece que andei quilometros preciso fazer isso mais
quinta-feira, fevereiro 04, 2010
o parque era uma parede verde-negra, o céu agarrava as arvores
minha cabeça moia pensamentos
o céu tem de se desprender do chão quando clareia
sempre gostei de fazer isso, anotar frases , palavras de que gostava dos livros
uma coleção de frases assim como se coleciona caixas de fosforos ou maços de cigarros
quando era pequena saia catando maços de cigarros pelas ruas! hoje em dia não consigo não achar horrivel isso...e caixas de fosforos e
depois colecionei frasqueiras que estão se acabando e alguns poucos marcadores de livros que ficavam num caminhaozinho de madeira que acabei dando para o menino
e agora ficam naquele sofazinho miniatura, na estante
hoje resolvi ficar quieta quieta e quase não sai do quarto
ja que as opções...mas ai os pensamentos crescem e invadem e ficam enormes e tenho que fingir que eles não tem muita importancia
minha cabeça moia pensamentos
o céu tem de se desprender do chão quando clareia
sempre gostei de fazer isso, anotar frases , palavras de que gostava dos livros
uma coleção de frases assim como se coleciona caixas de fosforos ou maços de cigarros
quando era pequena saia catando maços de cigarros pelas ruas! hoje em dia não consigo não achar horrivel isso...e caixas de fosforos e
depois colecionei frasqueiras que estão se acabando e alguns poucos marcadores de livros que ficavam num caminhaozinho de madeira que acabei dando para o menino
e agora ficam naquele sofazinho miniatura, na estante
hoje resolvi ficar quieta quieta e quase não sai do quarto
ja que as opções...mas ai os pensamentos crescem e invadem e ficam enormes e tenho que fingir que eles não tem muita importancia
domingo, janeiro 31, 2010
escrevo sobre minha instabilidade e penso se sou bipolar, palavra meio na moda. acho que papai e mamãe eram, principalmente mamãe. Será que não tem como jogar fora tudo o que herdamos deles e que não é nosso, que não somos nós ? no biografico ficou essa sensação: isso é sua mãe, isso é seu pai. mas talvez não exista essa pessoa que é só ela; ou talvez a idéia seja se livrar dos excessos, ou das pulsões que assumimos como nossas e que são muito mais ligadas a desejos "deles". Ih, tá confuso, risos.
Controlar a instabilidade, não deixar ela tomar conta de tudo, ou fingir, to pretending.
ontem costureiras furaram como sempre, tudo furou, cheguei em casa exausta, aos pedaços. de noite meu rosto doia, a boca. os gatos dormiram comigo, lindinhos, Bubu, Coco e Miranda. Agora escuto Jamie Cullum como sempre, depois de um simpatico almoço no Gourmet, tomei 2 taças de prosecco rosé, me salvou de um desastre qualquer, Rita me salvou de um desastre qualquer, agora parece que tudo esta indo engraçado que a idéia a imagem que sempre vem é indo caminho melhora como se realmente houvesse um caminho.
sexta-feira, janeiro 29, 2010
terça-feira, janeiro 26, 2010
Rola uma discussão que so acompanho à distancia, tanto por dificuldades de me inserir nesse ser-artistapolitico quanto, agora, por estar com o pé engessado, mas achei interesante esse texto do Wilton Montenegro, que aponta, acho, algumas contradições e/ou caminhos.
Algum tempo antes de se suicidar, Nicos Poulantzas escreveu um ensaio sobre a questão do partido, discussão candente nos anos 60/70, onde dizia que, no instante mesmo em que é criada, a forma partido torna-se passado, pois só atende às reivindicações estabelecidas até o momento de sua fundação. Desdobremos isso até sua teoria sobre o Estado que, segundo Luiz Eduardo Motta, “ainda se faz presente quando se percebe que muitas de suas questões abordadas ainda permanecem (mesmo que tragam consigo novos problemas como o fenômeno da judicialização da política e das relações sociais, que fortaleceu as instituições estatais do direito e as representações funcionais jurídicas perante a crise das representações políticas do poder Legislativo e do Executivo), surgindo como uma nova forma de autoritarismo estatal, da fragmentação das decisões e das execuções do poder de Estado com a emergência das agências reguladoras e do chamado "terceiro setor", da formação de blocos regionais políticos e econômicos, do fortalecimento do poder local e a questão da "glocalização", da construção de novas formas de política de controle com o emprego das tecnologias de informação e da complexificação da sociedade civil e dos novos movimentos sociais.” A parte que fala de agências reguladoras e judicialização, lembra alguma coisa?
O Estado contemporâneo, especialmente se constituído por transformações não antagônicas, (como o Estado brasileiro antes x após 1930, onde a economia mudou de forma sem mudar de mãos), carrega o peso de apenas adaptar suas instituições, sem realmente transformá-las. Isso faz com que a maioria dos seus órgãos administrativos permaneça ainda preso a um arcabouço antigo que dá a devida sustentabilidade ao sistema. Para não enveredar demasiado por essa área, lembremos que a expansão horizontal da economia proposta pelo pessoal da Unicamp, continua negada pela afirmação do medo da inflação disseminado pelos herdeiros do pensamento de Samuelson. Isto é, a frase do Delfim continua valendo: é preciso crescer o bolo para depois reparti-lo, o que também significa que a pirâmide social brasileira, apesar de ter melhorado consideravelmente no governo Lula, continua isósceles em vez de escalena.
Claro que numa política de estado, tudo o que ele faz é também cultural, tanto no sentido de Civilização (Kultur), quanto no de formação (bildung), para usar as definições de Étienne Balibar, e atinge claramente suas instituições culturais. O conselho federal de cultura foi criado para abrigar um dos nossos maiores poetas, que estava passando dificuldade de sobrevivência, e está com nova versão. A Funarte, apesar de ter sido criada durante a ditadura militar, em 1975, desempenhou um papel importante no desenvolvimento e integração de algumas linguagens. As instituições vão se adaptando aos tempos para poder sobreviver, e não raro tornam-se lugares de vícios culturais ou cabides de emprego. Todavia, é bom lembrar que alguns personagens da área passaram para a história como formuladores, como Gustavo Capanema e Aloísio Magalhães (este, duplamente), e outros ainda poderão entrar nesse pequeno círculo.
Roberto Schwarz, em 1986, começou uma conferência assim: “Brasileiros e latino-americanos fazemos constantemente a experiência do caráter postiço, inautêntico, imitado da vida cultural que levamos. Essa experiência tem sido um dado formador de nossa reflexão crítica desde os tempos da Independência . Ela pode ser e foi interpretada de muitas maneiras (...), o que faz supor que corresponda a um problema durável e de fundo.”
E terminou assim: “... o que importa, a saber, a dimensão organizada e cumulativa do processo, a força potenciadora da tradição, mesmo ruim, as relações de poder em jogo, internacionais inclusive. Sem prejuízo de seus aspectos inaceitáveis – para quem? – , a vida cultural tem dinamismos próprios, de que a eventual originalidade, bem como a falta dela, são elementos entre outros. (...).”
Recentemente, George Kornis, numa palestra no MAM, falou sobre o desconhecimento da América Latina e de seus artistas entre nós. Agora que estamos buscando conhecer experiências que possam formar nossas instituições, todos, eu inclusive, buscamos exemplos no assim chamado primeiro mundo. Bom, proponho uma olhada na nossa história brasileira e latina. O México é um país pródigo no respeito à arte contemporânea, com museus e centros culturais voltados para as mais diversas experiências estéticas. O Lezama Lima diz que o Aleijadinho é um dos dois mais importantes artistas latino-americanos, o outro é um arquiteto inca; o cânone da literatura ocidental, escrito por Harold Bloom, ressente-se da obra de Machado de Assis ser escrita em português (aliás, diz-se que o Fernando Pessoa seria o mais importante poeta do século 20 se escrevesse em inglês). É preciso voltarmos os olhos para nós mesmos, para perder essa mania de falsa educação e esse complexo de inferioridade (lembro que Caetano Veloso, que escreveu sobre peitinhos e putinhas, disse estar envergonhado da linguagem chula do presidente). Em conversa recente com Zalinda Cartaxo, ela afirmou que a arte contemporânea brasileira não fica a dever nada à arte produzida na Europa, onde ela passou um ano estudando. O Balibar, inclusive, afirma que a formação contemporânea européia hoje é produzida principalmente por imigrantes.
Há um livro, um cartapácio de cerca de 700 páginas, chamado Conceptual Art in Latin America, escrito pelo Luis Camnitzer, onde ele lista todos os artistas latino-americanos de arte conceitual – menos ele, por pudor. O livro foi editado pela Universidade do Texas. Aos amigos da academia, uma questão: as livrarias estão cheias de obras de Arthur Danto, Hal Foster, Rosalind Krauss, André Rouillé, Vilém Flusser, etc. Se alguém precisar estudar a obra do nosso mais importante crítico de arte, o Mário Pedrosa, vai ter que se contentar com apenas um ou dois volumes da coleção organizada pela Otília Arantes. Talvez, para piorar as coisas, tenha que se contentar com as 190 páginas de outro volume organizado por ela, com o Itinerário Crítico, numa edição Cosac&Naify encadernada (nada mais anti-Mário) com uma sobrecapa que reproduz parte (infelizmente) de uma obra da Lygia Pape.
Para terminar. Em entrevista recente, Roberto Machado disse que Deleuze não é um filósofo preocupado com a origem. Ele é um filósofo do meio, porque é ali, segundo ele, que as coisas acontecem, os processos se dão, as diferenças aparecem como multiplicidades. Multiplicidade é um conceito que representa todos nós.
Algum tempo antes de se suicidar, Nicos Poulantzas escreveu um ensaio sobre a questão do partido, discussão candente nos anos 60/70, onde dizia que, no instante mesmo em que é criada, a forma partido torna-se passado, pois só atende às reivindicações estabelecidas até o momento de sua fundação. Desdobremos isso até sua teoria sobre o Estado que, segundo Luiz Eduardo Motta, “ainda se faz presente quando se percebe que muitas de suas questões abordadas ainda permanecem (mesmo que tragam consigo novos problemas como o fenômeno da judicialização da política e das relações sociais, que fortaleceu as instituições estatais do direito e as representações funcionais jurídicas perante a crise das representações políticas do poder Legislativo e do Executivo), surgindo como uma nova forma de autoritarismo estatal, da fragmentação das decisões e das execuções do poder de Estado com a emergência das agências reguladoras e do chamado "terceiro setor", da formação de blocos regionais políticos e econômicos, do fortalecimento do poder local e a questão da "glocalização", da construção de novas formas de política de controle com o emprego das tecnologias de informação e da complexificação da sociedade civil e dos novos movimentos sociais.” A parte que fala de agências reguladoras e judicialização, lembra alguma coisa?
O Estado contemporâneo, especialmente se constituído por transformações não antagônicas, (como o Estado brasileiro antes x após 1930, onde a economia mudou de forma sem mudar de mãos), carrega o peso de apenas adaptar suas instituições, sem realmente transformá-las. Isso faz com que a maioria dos seus órgãos administrativos permaneça ainda preso a um arcabouço antigo que dá a devida sustentabilidade ao sistema. Para não enveredar demasiado por essa área, lembremos que a expansão horizontal da economia proposta pelo pessoal da Unicamp, continua negada pela afirmação do medo da inflação disseminado pelos herdeiros do pensamento de Samuelson. Isto é, a frase do Delfim continua valendo: é preciso crescer o bolo para depois reparti-lo, o que também significa que a pirâmide social brasileira, apesar de ter melhorado consideravelmente no governo Lula, continua isósceles em vez de escalena.
Claro que numa política de estado, tudo o que ele faz é também cultural, tanto no sentido de Civilização (Kultur), quanto no de formação (bildung), para usar as definições de Étienne Balibar, e atinge claramente suas instituições culturais. O conselho federal de cultura foi criado para abrigar um dos nossos maiores poetas, que estava passando dificuldade de sobrevivência, e está com nova versão. A Funarte, apesar de ter sido criada durante a ditadura militar, em 1975, desempenhou um papel importante no desenvolvimento e integração de algumas linguagens. As instituições vão se adaptando aos tempos para poder sobreviver, e não raro tornam-se lugares de vícios culturais ou cabides de emprego. Todavia, é bom lembrar que alguns personagens da área passaram para a história como formuladores, como Gustavo Capanema e Aloísio Magalhães (este, duplamente), e outros ainda poderão entrar nesse pequeno círculo.
Roberto Schwarz, em 1986, começou uma conferência assim: “Brasileiros e latino-americanos fazemos constantemente a experiência do caráter postiço, inautêntico, imitado da vida cultural que levamos. Essa experiência tem sido um dado formador de nossa reflexão crítica desde os tempos da Independência . Ela pode ser e foi interpretada de muitas maneiras (...), o que faz supor que corresponda a um problema durável e de fundo.”
E terminou assim: “... o que importa, a saber, a dimensão organizada e cumulativa do processo, a força potenciadora da tradição, mesmo ruim, as relações de poder em jogo, internacionais inclusive. Sem prejuízo de seus aspectos inaceitáveis – para quem? – , a vida cultural tem dinamismos próprios, de que a eventual originalidade, bem como a falta dela, são elementos entre outros. (...).”
Recentemente, George Kornis, numa palestra no MAM, falou sobre o desconhecimento da América Latina e de seus artistas entre nós. Agora que estamos buscando conhecer experiências que possam formar nossas instituições, todos, eu inclusive, buscamos exemplos no assim chamado primeiro mundo. Bom, proponho uma olhada na nossa história brasileira e latina. O México é um país pródigo no respeito à arte contemporânea, com museus e centros culturais voltados para as mais diversas experiências estéticas. O Lezama Lima diz que o Aleijadinho é um dos dois mais importantes artistas latino-americanos, o outro é um arquiteto inca; o cânone da literatura ocidental, escrito por Harold Bloom, ressente-se da obra de Machado de Assis ser escrita em português (aliás, diz-se que o Fernando Pessoa seria o mais importante poeta do século 20 se escrevesse em inglês). É preciso voltarmos os olhos para nós mesmos, para perder essa mania de falsa educação e esse complexo de inferioridade (lembro que Caetano Veloso, que escreveu sobre peitinhos e putinhas, disse estar envergonhado da linguagem chula do presidente). Em conversa recente com Zalinda Cartaxo, ela afirmou que a arte contemporânea brasileira não fica a dever nada à arte produzida na Europa, onde ela passou um ano estudando. O Balibar, inclusive, afirma que a formação contemporânea européia hoje é produzida principalmente por imigrantes.
Há um livro, um cartapácio de cerca de 700 páginas, chamado Conceptual Art in Latin America, escrito pelo Luis Camnitzer, onde ele lista todos os artistas latino-americanos de arte conceitual – menos ele, por pudor. O livro foi editado pela Universidade do Texas. Aos amigos da academia, uma questão: as livrarias estão cheias de obras de Arthur Danto, Hal Foster, Rosalind Krauss, André Rouillé, Vilém Flusser, etc. Se alguém precisar estudar a obra do nosso mais importante crítico de arte, o Mário Pedrosa, vai ter que se contentar com apenas um ou dois volumes da coleção organizada pela Otília Arantes. Talvez, para piorar as coisas, tenha que se contentar com as 190 páginas de outro volume organizado por ela, com o Itinerário Crítico, numa edição Cosac&Naify encadernada (nada mais anti-Mário) com uma sobrecapa que reproduz parte (infelizmente) de uma obra da Lygia Pape.
Para terminar. Em entrevista recente, Roberto Machado disse que Deleuze não é um filósofo preocupado com a origem. Ele é um filósofo do meio, porque é ali, segundo ele, que as coisas acontecem, os processos se dão, as diferenças aparecem como multiplicidades. Multiplicidade é um conceito que representa todos nós.
domingo, janeiro 24, 2010
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