"Não tenho um unico fato que pudesse dizer aos outros que tenho sido capaz de dar ordem à minha vida. Não vera em mim nada que sugira um rumo determinado. Estou ainda diante da porta da vida, bato uma e outra vez, sem fazer muito barulho, e escuto atentamente para ver se chega alguém que queira correr o ferrolho. Um ferrolho assim é uma coisa pesada, e não ha quem queira aproximar-se quando imagina que quem esta la fora e bate à porta é um mendigo. Não sou mais do que alguém que escuta e espera, nisso porém sou eximio, pois aprendi a sonhar enquanto espero. São duas coisas que andam de mãos dadas, e que fazem bem, e praticando-as mantemos a nossa honra. Se terei falhado a minha vocação, é coisa que ja não pergunto, isso pergunta-se um rapaz, não um homem. Não teria chegado mais longe com nenhum outro oficio. Isso que me interessa! Estou consciente das minhas virtudes e das minhas fraquezas e evito fanfarrear acerca de umas e de outras.Ofereço os meus conhecimentos, a minha força, as minhas idéias, o meu trabalho e o meu amor a quem quer que eles possam servir. Se alguém faz um sinal com o dedo e me chama, outros talvez começassem a coxear, mas eu aproximo-me de um salto, esta a ver, assim como o vento assobia, e piso e passo por cima de todas as recordações para poder correr mais livremente ainda. E o mundo inteiro voa comigo, a vida inteira! E é bonito que assim seja. So assim! Nada no mundo é meu, mas eu também não quero ter mais nada. Ja não sei o que é desejar. Quando era movido pelo que desejava, começava a ver as pessoas com indiferença, como um estorvo, e por vezes afastava-me delas com repulsa, mas agora amo-as porque preciso delas e porque posso me oferecer caso elas precisem de mim. é para isso que ca estou!..."
(Os Irmãos Tanner, Robert Walser, trad. Isabel Castro Silva, Relogio D'Agua)
quarta-feira, novembro 02, 2011
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