sábado, julho 28, 2012

                    Foto : George Charles Beresford
as estorias. que grandes e obviamente a que existe na minha cabeça é unica diferente de qualquer outra que possa existir em cabeças outras se é que existem ou de que jeito são. ou não são, pequenos pedacinhos so. ou é tudo fingido, colocado num outro lugar meio escondido. também. me sinto mais leve agora como se algo tivesse ido embora se libertado. ouvindo qualquer coisa - de 75 - que comprei hoje, depois de chegar com o quadro do caloca que não sei onde colocar. flash rapido: Tuca. fecha o pano. na época acho que as coisas iam indo se atropelando como uma onda trombolhão um caldo a casa esta um caos ou a vida é isso mesmo. começando à me acostumar. your day breaks.  olho a foto da Virginia ( nome da minha mãe, penso agora) Woolf, tão belamente pensativa, absorta melancolica. como assim não usar adjetivos? moveis.

sexta-feira, julho 27, 2012

todas as sensações esquisitas ou devo simplesmente relaxar todo esse tempo com pessoas que são de mundos distantes e às vezes canso disso agora o sol ficou firme sem aquele vento até frio que estava quando acordei e por isso não sai nem acordei mesmo fiquei na sala enrolada no lençol tentando me convencer ontem levantei por habito comi por habito variar alguma coisa por outro lado segunda foi delicioso mexendo no quadro etc  terça dentista e falamos muito de esse o problema talvez que tenha desencadeado depois quando o vi chegando o sol parece escaldante la fora agora não sei se saio ou se fico.

quinta-feira, julho 26, 2012

Olhando o Beckett que esta na pilha ao lado da cadeira - o personagem andando andando e se relacionando so com ele mesmo, ele é a estoria que esta sendo "não contada", porque tudo é a mesma coisa, uma espécie de lamaçal que não deixa que nada mude muito, penso no Cidade Aberta, onde o personagem principal também sai caminhando a esmo quase todas as noites por Manhattan apos o trabalho, mas que pensa sobre mil coisas, se relaciona, conta varias estorias, tem considerações sobre os assuntos, e talvez isso tenha um lado meio acadêmico, de tese, que me fez desinteressar do livro... não acho que seja flaneur por que ele tem muitas opiniões e se envolve realmente e o flâneur acho que era mais blasé

domingo, julho 22, 2012


Yalo,  de Elias Khouri - obrigado à escrever a estoria de sua vida apos ser torturado -  em cenas bem violentas, vai tentando entender quem é e o que se tornou sua vida. Pra ele tudo é confuso e embaralhado, numa visão labirintica que é também a forma como o livro é escrito. Num momento caotico de guerra civil no Libano, ele, meio abandonado, foge da mãe que esta enlouquecendo e vai sendo levado pelos acontecimentos. As estorias vão sendo escritas e contadas varias vezes, com acréscimos ou mudanças, é um livro denso, as descrições das torturas é que são um pouco over de se ler, mas estão totalmente dentro do contexto. Quase acabando, parei para respirar um pouco. Capas.



sexta-feira, julho 20, 2012

acordei um pouco tarde para que o dia possa realmente ficar grande, sentir grande. não sei como escrever isso: senti-lo grande, o sentir grande, tudo fica esquisito. meu dente doi um pouco, incomoda, o não dente na verdade; como um pouco do pão rustico que Pedro comprou, que é lindo, e nunca tinha parado para ler escrito no saquinho de papel, cor de papel de pão: linhaça aveia gergelim. e eu pensando que era um simples pão integral. mas tem também estabilizante não sei das quantas e etc. café meio ruim, faço outro depois, não muito bom também. lavo a louça, enquanto Sybill olha o enigmatico bicho que supostamente mora atras da maquina ; colocar uma cortina ali, talvez, pelo menos a bagunça sumiria; olhar os tecidos, comprar...sol la fora. olho o facebook, gmail, pinterest, escuto mammas and the papas, que sempre achei que tivessem morado juntos numa comunidade mas foi tudo uma invenção minha; so um grupo, com brigas internas e etc, embora a mensagem seja sol california alegria. ontem coloquei a foto do sofa/estante no face, varias pessoas gostaram, bonitinho. o face serve pra isso, carências...rs. daqui à pouco trabalhar, sair desse mundo xangri-la que fiquei esses quase 3 dias. um pedaço de giz.

quinta-feira, julho 19, 2012



Charles Baudelaire


Le Spleen de Paris
Reeditado em 1864 sob o titulo Petites Poémes en Prose


L'étranger


  "Qui aimes-tu le mieux, homme énigmatique, dis? ton père, ta mère, ta soeur ou ton frère?
   - Je n'ai ni père, ni mère, ni soeur, ni frère.
   - Tes amis?
   - Vous vous servez là d'une parole dont le sens m'est resté jusqu'à ce jour inconnu.
   - Ta patrie?
   - J'ignore sous quelle latitude elle est située.
   - La beauté?
   - Je l'aimerais volontiers, déesse et immortelle.
   - L'or?
   - Je le hais comme vous haïssez Dieu.
   - Eh! qu'aimes-tu donc, extraordinaire étranger?
   - J'aime les nuages... les nuages qui passent... là-bas... là-bas... les merveilleux nuages!"




acho que sempre quis ter de novo a casa da Bulhoes... que nem existe mais, pelo menos fisicamente. nao sei se essa época, dos 8 aos 12 anos, mais ou menos, as coisas ficam realmente marcadas na nossa mente, ficam marcadas nao sei exatamente onde. aqui nessa casa sinto como se isso estivesse, de novo, esse clima de casa, janelas fechadas, chove la fora, os livros na estante, musica. aconchego, talvez seja isso.

quarta-feira, julho 18, 2012



acho um bilhete de loteria que um moço me entregou na rua, outro dia, sem estar preenchido. e varrendo embaixo da cama um ingresso pro Pina do dia 28 de março, tento achar que dia é esse, se da primeira ou da segunda vez que fui, com significados tao diferentes. o primeiro chuva, repentina, ele meio mal humorado quando chegou, eu estava terminando uma pizza naquela lanchonete mais barata ali do lado chovia e ele meio de mal humor fingi que nao reparei como se eu o tivesse obrigado à estar ali e ele que tinha se convidado mas vai ver se arrependeu depois e o filme maravilhoso fiquei ali dentro voando junto com os bailarinos e desejando ser aquela pessoa que teve esse trabalho tao intenso e desnudador e depois taxi estranho e distante e fiquei emburrada me lembro que ele disse você parece uma menina de treze anos sera que pareço, rs. deixei ele no meio da escuridao perto da rua aarao reis e esqueci de deixar dinheiro e b. ficou tao chateada porque eu disse que queria ir trabalhar na quinta-feira e ela desligou o telefone..? as pessoas me preenchem, deixam o espaço mais gordo, acho que é disso que sinto falta.
estar sem trabalhar é estranho. apesar de que sempre no começo do dia ou no final tanto faz nao estou querendo e so o que quero é estar deitadinha na cama envolvida pelo edredon e meu corpo diz nao e Miranda me olha diretamente nos olhos ou olha diretamente para tudo, eu incluida, eu-toda-amor-por-ela-quarto e nao sei o que mais e ela diz nao também. mas agora que estou aqui penso em la, penso em la ficou estranho. na vitrine que queria olhar mais e nas pessoas e tudo o mais. estou maluca talvez? talvez. e o tempo esta cinza e quieto.

sábado, julho 14, 2012

Tarkovsky polaroid
dança das cabeças. às vezes enjôo de fotografias o tempo todo fotos fotos fotos. e eu que tenho uma maquina. saudades de ver um filme qualquer deveria ter pego. viciada em olhar olhar no pinterest.

sexta-feira, julho 13, 2012

hoje fui paquerar o quadro-negro e os cavaletes... ainda na duvida dos dois, principalmente do quadro - negro.
ao mesmo tempo sonho com ele aqui na parede do quarto, escrito à giz. pena que é verde e não negro, negro, como antes.
o cavalete ja quase convencida, ja que o grandão esta meio podre.
Pedro conta de quedas de bicicletas, quer contar, e eu não quero.
hoje estava completamente out, e foi difici, não queria, mergulhei completamente num aconchego fora do mundo e ...fui. sera que deu pra perceber? enfim, não importa.
um problema de tempos.
de climas, sei direito não.
às vezes completamente perdida.
comprei tinta para mudar o cabelo, tenho que mudar algo.
descobri que: um. saio da livraria e fico querendo me compensar de alguma forma, me dar algum tipo de prazer, ansiosa perseguindo o tempo.
dois. venho pra casa imediatamente, casa casa casa como sendo o unico lugar onde posso estar.
ter essa consciência ajuda?
ontem cheguei aqui baqueada - ja estava antes, e isso não deu certo. crise com isso, a casa.
três. não sei se tenho um numero três.
tem,  hoje tentei relaxar desse quase compromisso, dessa obrigação comigo mesma que inventei de ter que voltar e vi oculos rapidamente, casa cruz e lojas americanas. depois achei que ja eram coisas demais e voltei para casa - com parada quase surreal na casa do nilton onde gosto mas não relaxo totalmente. acho que não da para relaxar mesmo.
arrumar almofadas maiores pra cama, ou mais travesseiros.
no livro diz para perceber so o presente, sem cobrar como deveria ser, sem perceber as faltas e que ele basta. quando isso vem, como um flash, relaxo.





quinta-feira, julho 12, 2012

escutando meu coração não se cansa de ter esperança de um dia ter tudo o que quer.  essa musica  tão bobamente romântica, Gal com uma voz de menina, que é lindo escutar.

quarta-feira, julho 11, 2012

sempre essa sensação de mil coisas à serem feitas, resolvidas, sensação de falta, incompletude.
me repito.
ansiedade, percebo agora.
voltar à ler livros budistas ou simpatizantes pra lembrar como faz pra pensar diferente, ou melhor, não pensar, deixar ir.... não acho os livros, não da tempo pra tudo, e acabei emprestando dois que tinha adorado - pra Roberta, o Tartang Tulku e outro que não lembro, e o Calma no Caos maravilhoso pro vizinho, que parece, perdeu.
lendo o Cidade Aberta e em algum momento o narrador para pra escutar o Mahler que esta tocando numa loja de musica que vai fechar, acho, e ele então fica la, escutando, e depois a musica continua na cabeça dele mesmo depois que ele sai, a chinoiserie, achei engraçado que ele usa essa expressão, chinoiserie, e agora escuto também o Mahler,  que estava no mp3 do Leo, Sinfonia n. 9, não é a mesma que escutei na estréia da OSB no Municipal, a n. 5, que todas as pessoas conheciam, Sacramento e o dândi da bilheteria, alias indignado de que eu não conhecesse.
preciso escutar de nôvo.

"Paris, 2/ de setembro/ 94

Fernando, Andrea,

Ontem e hoje, fizemos, Ursula
e eu, um tour pela arquitetura
e pelos bistrôs, cafés, brasseries
de Saint-Germain, Ile Saint Louis,
Bastille, Marais. Em Montmartre
vi a casa onde morou Satie.
No Bois de Boulogne, o Pré -
Catelan - lindo! Resgates proustianos.
Almoçamos num pub, chamado Certa.
Um pub inglês, que era de portugueses, e,
hoje, de franceses, serve comida
francesa. As francesas são lindas -
parecem inglesas. No mais, a trilha sonora
do brecho era jazz. E, à capela, um trio de
franceses cantava musica medieval. Me sinto em casa.
Beijos

Roberto do Canto"

encontrei.
do outro lado, uma foto de um casal se beijando num café,  Cartier-Bresson, Boulevard Diderot, Paris, 1969.


Fui procurar pelo Severin Dayeck e não achei nada. ou melhor, apareceu um link croata ou algo assim, mas não consegui, abrindo, achar o nome dele. tinha uma lista tipo um dicionario de pessoas, nomes.   sera uma invenção, à la Bolaño / Vila-Matas...?

terça-feira, julho 10, 2012

chegando em casa tudo parece uma correria. o entardecer que quero ver,  os ultimos dias, lembro vendo os sapatos na sacola - agora não consigo mais olhar para eles, quero e preciso pensar sobre os dias, e escrever qualquer coisa. escrever. escribir escribir escribir. escutar  musica?, aos poucos voltar à uma "coisa" minha, escurece rapidamente, adoro a claridade do dia, acho que é isso que persigo. a minha claridade do dia. o que ainda posso pegar do ar do dia ( agora uma bobagem calhorda passou, ar de Dylan, haha). quero relaxar enquanto corro. isso não vai dar certo. pausa para pegar o cinzeiro, o beque cai e se desmonta, um finalzinho troncho. pena;
no ônibus, ou poderia escrever, na viagem, além da culpa inicial por toda a confusão por ter saido em cima da hora ingenuamente e um certo desespero surreal que foi caminhar em pedaços mal iluminados da Presidente Vargas e os carros e ônibus passando rapidos e os taxis que nãp paravam e eu indo em frente, sempre, indo em frente, fecha parênteses que nem abri,  no ônibus vim  como que escutando outra pessoa e parecia que ela assumia uma outra dimensão espacial. Mahler Mahler Mahler. não imaginava...  depois desliguei um pouco, fiquei so pensando, olhando a paisagem que corria pelas janelas. ficou poético. e  depois desisti de não saber mexer no mp3, apesar de que na semi escuridão não era realmente facil ou os oculos ja não estão dando tanta conta e não resolvo isso também. resolver resolver. consegui mais alguma coisa e escutei uma versão cafona do Elton John, uma daquelas musicas conhecidas, Rocket man sei la agora não lembro o nome e Velvet Underground que não tenho certeza sobre quem canta,  Lou Reed? tem à ver conceitualmente com Patti Smith e Andy Warhol e Bob Dylan, penso, mesma turma e gosto mas depois é a mesma coisa que se repete e se repete, e um Beatles que talvez nunca pensasse em escutar, Rubber Soul  - escuto geralmente o Abbey Road ou algumas musicas da trilha do Across the Universe ou do Album Branco, esta escuro ja e essa musica que toca agora da Gold Frapp é muito triste - engraçado, faz parte "dele" e o imagino escutando, e consegui achar o Band on the Run  que tinha pensado que poderia estar la ou o Flaming Pie, finalmente, mas ja entravamos em Paraty. na volta apesar da escuridão eu ja estava mais familiarizada e escutei o Paul e alguns Elton Johns, agora o verdadeiro, e Bob Dylan, o ônibus correndo e tudo embaçado os vidros das janelas e então era so um escuro e o embaçado e algumas luzes que apareciam la fora pensei o ônibus entrando na escuridão, ou algo cafona assim, na hora. e depois cansei e dormi, so acordando com a voz de alguém dizendo chegamos e estava perto da rodoviaria.
o domingo tão estranho, as pessoas ja meio xôxas - cansadas, eu cansada e precisando das minhas referências, como disse P.  talvez o mais legal, a conversa no bar e relembrar o Vila-Matas, escribir escribir. e no escribir. e escribir em Paraty. e ser a sombra da sombra e Antonio Tabuchi e os escritores na montanha em relação direta com os mortos e depois no bosque e cada vez mais escritores. e eu não estava feliz com o sapato, o problema foi esse, esse sapato que comprei não sei exatamente porquê, 1 hora e meia antes de viajar e que a atendente não entendeu o que eu queria e desisti e acabei pedindo o 37 bege embora eu quisesse o 36 cinza e ela tivesse voltado com o preto e então desisti porque não havia muito mais tempo e pensei porque não, ficou bom o bege mas depois la achei, no meio do dia, da tarde, que estava estranhissimo,  que a cor era horrivel e um tom acima, enfim, talvez o estranhissimo fosse por tudo também, uma estranheza generalizada? sei la, tenho que achar meus rascunhos.
ah, antes estava tudo encaixado e otimo, leio.
agora acho que sim, também
e então teve isso, a confusão que me deixou atônita e o sapato o tempo todo e depois o quarto na casa, a casa
e depois outras coisas
e a casa e o quarto e o som da luta ao lado, as pessoas chegando de um mergulho?,  aquelas pedras todas, uma felicidade inicial e também confusa
o mediador é um chato, a invisibilidade
não pensar
pessoa- cidade, pessoa- paris, adorei isso, paisagem, memoria, ruina, Sebald, bairros quadrados (Le Corbusier) e as vielas enviesadas do cérebro, das favelas
depois algumas conversas sobre horta, pães, sopas, alimentação, ser magra, suave ela
Flaubert, Jane Austen de qual é essa anotação?, realismo, personagens que ela continua carregando, gostei disso, essa ligação "cerebral" ou afetiva, apesar dela tão americana e técnica, musica acompanhando a escrita e o desenvolvimento da estoria ou dos personagens
acho que é esse vicio, essa necessidade desse ritual, estar em casa, olhar o mundo com essa perspectiva grande, maior do que o que vejo durante boa parte do dia, espaços reduzidos e fechados e constantes,  e o espaço tempo que é meu
ontem so dormi, praticamente, ou pensava quieta,  Carlota deitada comigo e Miranda também, alguma parte da noite
e o tempo que resta todo cortado em pedacinhos

terça-feira, julho 03, 2012


Três crianças conduzidas à escola. 
Outro deux-chevaux verde-maçã. 
Outra revoada de pombos na praça. 
Um ônibus 96 passa e pára no ponto de Saint-Sulpice; Geneviève Serreau desce e envereda pela Rue des Canettes. Eu a chamo, batendo no vidro da janela do café; ela se aproxima para me cumprimentar. 
Passa um ônibus 70. 
Pára de tocar o sino da igreja. 
Uma menina come metade de um bolo. 
Um homem de cachimbo e valise preta. 
Passa um ônibus 70. 
Passa um ônibus 63. São duas e cinco da tarde.
A experiência "termina":
Quatro crianças. 
Um cão. 
Uma nesga de raio de sol. 
O ônibus 96. São duas horas.

Em 1975, o escritor vanguardista Georges Perec decidiu registrar o que acontecia numa só praça parisiense em menos de 24 horas distribuídas ao longo de três dias consecutivos de outubro. Na sua "Tentative d'épuisement d'un lieu parisien  - Tentativa de exaustão de um local parisiense",  citado em Paris - Biografia de uma Cidade, de Colin Jones) . 
Estava sentada ao lado da mini seção Paris, folheando essa "grande" historia da cidade e me diverti com essa lista do Perec, que alias parece um especialista nisso. 

Procurando mais alguma informação sobre esse livro do Perec entrei num blog, que não falava nada sobre ele mas falava de outros, não sei se é um blog português, talvez, gostei da descriçao desse livro , onde ele faz uma comparação com o Perec. 
Os NichosSeverin Dayek, 1971 – Editora Unir - Camarões (1922-2011)
Um livreiro observa seus livros se transformarem pela ação dos cupins. Uma a uma obras de Dostoiévski, Gogol, Hemingway, Karel Tchapek, Nicolás Guillén se convertem em um emaranhado de pequenos túneis que, para o narrador, se assemelham a animais, rostos de antigos conhecidos, uma cena bucólica esquecida na infância. Os nichos é uma metáfora da morte e da mudança. A pequena novela do escritor camaronês foi publicada durante as sua estadia na França e logo despertou o interesse de gente como Georges Perec e Nathalie Serraute pelo parentesco com o nouveau roman, embora em Dayek a descrição esteja mais no mundo que existe na cabeça do narrador e, embora mais uma vez, o eu desse narrador se negue como tal. Em um paralelo, o processo descritivo no movimento francês afirma a impessoalidade. Já a obra do camaronês nega a impessoalidade e o seu avesso ao mesmo tempo.  Se para o leitor francês o texto já era um caleidoscópio enganoso, em português, aqui na tradução de Odara Mendes, há mais uma transformação, mais uma ação que corrompe e transforma, mata e dá vida. Um livro de Dayek é sempre uma surpresa. Mas o autor foi um homem sem biografia: morto no ano passado, quase não foi publicado. Trechos:
“Eu sou os meus livros. Eu sou todas estas palavras dos outros, o meu corpo não me pertence. Eu não tenho palavras minhas. Vejo o meu corpo ali sendo devorado.” 
“Os pequenos túneis são como veias que se apossam do papel e o transformam num objeto mais próximo do ser humano, algo mais orgânico, algo que se assemelha à própria pele, a pele recheada de pequenos escorpiões.” 
“A morte sabe o nome de todas as coisas.” 
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